Ainda não consigo compreender com clareza como consegui
suportar até aqui. Eu ouvi calada a início da tua [nova] história com os
vestígios da nossa. Ouvi atenta e, de novo: não sei como consegui, mas, muitas
vezes, não deixei o “eu” prevalecer, e te pedia que pensasse “nele”, como um
novo alguém repleto de sentimentos, interesses, vontades e desejos para
contigo, e que “eu”, fazendo-me presente, seria apenas o fantasma de alguém que
não está mais por perto, embora esteja bem aí dentro de ti. Eu já sou o teu
fantasma. Que coragem, teríamos nós, de nos darmos adeus, amando dessa maneira?
Concordas que, um pouco é doentio da minha parte querer me fazer presente com
você, claramente estando partindo pra outra? Embora tu não reconheças, pois sei
que não queres e não estás preparado pra isso, e arrisco a dizer que em
respeito a mim também, mas, está aí, visivelmente que as coisas estão
acontecendo de modo natural e se encaminhando pra isso. É possível sim amar
imensamente um e gostar de outro. Ontem nos falamos. Segurei o que pude a
vontade de não te atender, mas atendi. Puta “cagada” que eu fiz! Não apenas
atendi a ligação, como atendi contrariada ao que me pediu: exteriorizar a raiva.
Eu estava completamente fora de mim. E, nas nossas falas (a minha estava
embriagada de raiva), parecia-me como uma disputa de “quem está sofrendo mais?”;
Quantificar a dor, além de impossível, não é a melhor maneira de dizer que se ama.
Tampouco afirmar que, por estar sofrendo mais, logo, ama-se mais. E ressalvo:
estávamos os dois agindo assim. Quando pedi que me dissesse como tem me cuidado
nos últimos dias, não foi o mesmo que dizer que “você não me cuida”. Eu queria
ouvir de ti o que reconhece ter feito por mim nos últimos dias. Pois, o cuidado
é singular. Minha maneira de cuidar, suficientemente pra mim, não é a mesma pra
você. E quando me dispus a falar, travei. Veio em mente a tua confissão do dia.
Só silêncio. E, acrescido a raiva, veio a angustia, a náusea, a dor palpitante
e vívida. Aí, então, deixou de ser suportável. Chorei, hoje, desesperadamente,
sem dizer a verdade àqueles ao redor. Não consigo segurar pra mim isso tudo.
Estou certa de que, se ainda me queres, me ama como dizes (e sinto), não me
deixarás partir assim, facilmente. Entretanto, também não conseguirá desenrolar-se
desse teu novo “porto seguro”, presente na tua vida, suficiente para suprir as
necessidades que eu deixei, ao “partir”. Por que tu ainda me quererias por
perto? O que tens a me oferecer, além dessa tua nova história? De que jeito
pensas em acalmar essa fossa de tristeza que deixaste em mim? O que seria o “fazer
tudo”, que disseste ontem, se eu decidisse ficar? Não quero fazer crescer em
mim essa dor-raiva. Não quero uma imagem monstro tua, idealizada pela minha
incontrolável situação. Eu quero lembranças boas tua, as nossas lembranças. Mas
quero só na memória. Coisas vivas, como fotos, como teu número, como teu cheiro
em algumas roupas guardas, permanecerão escondidas, longe do meu alcance. Ainda
não tenho coragem de colocar fora. De desprender-me do “pra sempre”. Daqui pra
frente só me resta mesmo cicatrizar isso, e vai ter que ser sozinha. Na marra! Procura-me se tiveres as respostas as minhas incógnitas postas aqui.
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