É. Vai ter que ser a seco. Engolir toda essa dor, e evitar
transbordar esse sentimento todo. Não consegui dizer, em resposta às tuas
palavras, que sim, eu te amo. Embora quisesse largar um “ainda” para trocar um
pouco o sentido da frase. Mas as três palavras estavam bloqueadas. Não havia
como acrescentar a quarta. E agora o tempo é esse: paulatinamente, acomodar a
dor nesse espaço aberto. Minha ferida forjada. Vinda sem um por que. Embora eu
dissesse que [e tu quisesses me convencer que não] os vestígios do passado não
somem da noite para o dia. O que deu errado uma vez será marca permanente no
peito de quem a sentiu. E quando situação semelhante acontece conosco, o doer não
advém do sentir, somente: mas da confirmação de que havia uma razão ao desconfiar.
Eu lembro: vi-me sendo o seu chão quando decidiu entregar-se pra mim na
contradição de ser uma ferida exposta e dolorida em uma caixa fechada e
lacrada. Você não falava, mas doía. Sabe como me senti? Corresponsável. Não
pela dor, mas a possibilidade de fazê-la diminuir. Ser o teu [novo] alguém importante.
Essencial. Então me vi amenizando tuas arestas e te dando a mão pra seguir,
mostrando o chão para pisar. Então você se foi. Escolheu o caminho mais
distante possível de mim, agora que estava suficientemente potente para decidir
por si. Não me vejo, há alguns dias, parte do teu caminho. Parte do teu ser. E
em algum momento, que agora em lágrimas não me permito ver, nos desvirtuamos, e
assim, seguimos rumos diferentes onde não mais existe um “nós”.
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