quinta-feira, 22 de março de 2012

Conversar


Irradiava-se, em plena distância, a indecisão de certo alguém cujo outro tentava limitadamente proporcionar qualquer conforto. Ambos sofriam, por desejos distintos, mas, entrelinhas, era possível enxergar a que tom falavam:
(...)
Alguém disse: - Acontece é que tu estás lembrando-se deste alguém de modo negativo; como alguém que errou contigo. Mas, pra ti foram erros, e para o outro/a? Será que em sua convicção isso tudo que ela/e fez foi tão errado assim? Envolve muito o subjetivo, as singularidades, as particularidades de sentir, individuais. E é isso que a gente deve levar em consideração pra perdoar alguém. Eu perdoei aquela/e que um dia me feriu. Não existe remorso em mim ou o cultivo de coisas ruins aqui dentro. Como disse, lembro do que me fez bem. E apenas isso. E não porque foi ela/e, mas pelo momento, pelos detalhes, pelo contexto. Pelo que EU senti.
O interlocutor respondeu: - Eu não quero mudar esse sentimento de raiva. Eu não queria sentir raiva, mas também não queria ter saudades, nem lembranças. Queria apagar, entende? Não consigo desejar que ela/e seja feliz. Sei que é errado, mas eu não consigo desejar isso a ela/e. É impossível. Às vezes parece que fica mais forte, dá um aperto. E o pior de tudo, é que achei que essa fase já tinha passado.
Alguém revidou: - Talvez, no fundo, tu a/o enxergues como o motivo principal de tu estares assim, sem paradeiro, "perdida/o" e confusa/o sobre o que realmente tu estás sentido. Mas isso que eu disse parece tão óbvio, e é de fato. Mas ao assumir isso, tu assumes também que tu estás culpando ela/e por tudo, não? Esquecer por completo, total, zerar tuas lembranças, tu sabes que é impossível. Mas, como eu disse, tu deves focalizá-las para os momentos que te fizeram bem. Momentos. Não a pessoa em si. É deles, dos momentos, que tu sentes falta.
O interlocutor retrucou: - Gostaria que fosse, mas estou começando a achar que não é.
Alguém, novamente, respondeu: - Então é por isso que tu não "aceita" quando ela/e volta, quando ela/e te procura? Tu evita, nega. Mas tu não estás negando ela/e, tu estás negando pra ti mesma/o que tu corres o risco de ter uma recaída
O interlocutor, de súbito, disse: - Ei, o que tu estás fazendo aqui dentro de mim? É! É exatamente isso.
Por fim, alguém respondeu: - Só estou te colocando em cheque, pra que sozinha/o tu chegue a uma conclusão. Conclusão é modo de dizer. Na verdade, é fazer com que tu enxergues o que, às vezes, não é visível. Talvez não seja nem enxergar, mas aceitar que tu és um ser humano também, que tu podes ter algumas recaídas, independente de quem for se valer a pena ou não, não te julgue errada/o por isso. Sentimento é irracional mesmo. Definas um norte frente ao que tu dizes para tentar definir o que realmente tu estás sentido. Agora o que tu vai fazer com relação a isso, só tu tem que decidir. Eu adoraria ter e te oferecer as respostas pra tudo, mais que isso, tirar toda essa inquietude que reside no teu coração. Mas (in) felizmente, sou só mais um ser humano. E encerro aqui nosso desfecho.
(...)
E encerrou-se assim. Fechou a conversa quase que explicitando o que estavas sentindo e que não foi, em nenhum momento, percebido.

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