domingo, 17 de junho de 2012

Sintonia


Esse silêncio melindroso que às vezes ecoa entre nós e que de início me angustiava, agora não me assombra mais. Talvez pelos momentos que ficamos juntos – que eu adoraria que fossem incessantes, nos permitiu revelar diversos dos pensamentos, crises de existência e, por que não, insanidades que residiram um tempo de nossa vida que não nos conhecíamos. Essa conexão firmou-se tão enérgica que, até mesmo nesse silêncio, nossos olhares quando se cruzam conseguem transmitir o que está lá, no fundo da alma, nitidamente. Eu sei o que se passa aí dentro. Ao menos imagino saber. E acredito que saibas o que habita em mim. Meu doce âmago. Pra você eu falo coisas em alto e bom som que ninguém antes ouviu. Espontaneamente. Sem doer, nem em mim, nem a ti que me ouve. Mas eu confesso meu medo. Essa aproximação toda, assim, rápida demais, violenta, assusta muito. Não é “sumir” o que eu faço quando digo “até mais”. Só restrinjo a não nos permitir a ir um pouco mais além. Esse desconserto todo que nos domina quando estamos a sós fala alto demais. Não sei, exatamente, o que tu és capaz de cultivar em mim e vice-versa, mas sei que pode ser grande e intenso, o que já está sendo. Então, penso que precisamos de uma pausa pra respirar fora desse vício que tudo isso se tornou em nós. Também não é fuga por medo. É tentar ser o menos inconseqüente e mais realista. Tenho meus pés no chão sobre nós. E tu reforças isso toda vez que dizes que não terás continuidade. Seja por querer, o que eu sei: não é o nosso caso. E que, possivelmente será pela vida.

sábado, 9 de junho de 2012

Aprendizado passado

06 de agosto de 2010
“Desde que eu não tenho você”, talvez essa seja a tua condição para o que disseste anteriormente: desde que tu não me tenhas, tudo será mais fácil para que não existam conflitos entre tu e teu coração. Ora, eu não sou nenhum empecilho! Não sou a pedra do teu sapato, teu incomodo em pessoa. Talvez eu tenha me perdido em meio há tanto tempo, tantas mudanças, e talvez eu não tenha conseguido acompanhar teu ritmo tão precoce. Ou então, quem esteve perdida esse tempo todo foi você. Mas, quem sou eu pra dizer o que é certo ou errado?! Eu apenas descobri como aceitar a diferença ao quebrar a minha cara na pior das quedas, magoando profundamente aqueles que me amavam. Uma mágoa que não pode ser apagada jamais, tampouco esquecida. Que permanece em meu peito dolorosamente. Eu errei, errei, errei, e foi errando que aprendi. Mas para aprender, eu também magoei, decepcionei, perdi. Suportei do jeito que pude, com as forças mínimas que me restavam, porque um pingo de esperança ainda vivia em mim pra que eu pudesse provar a eles que, do jeito que eu fosse, eu poderia ser o seu orgulho, a sua alegria, a sua recompensa. Essas são as “merdas da minha vida”, que tu me jogaste na cara certo dia desses. Tu já me perguntaste alguma vez qual o meu maior arrependimento? Bom. Se não sabes a resposta frente a tudo isso que te disse é porque não me conheces mesmo. Eu te permito caminhar do jeito que quiseres. Permito-te aceitar o desafio que quiseres enfrentar, da maneira como tiver que enfrentar, machucando quem quiser ou precisar machucar. Só não te transformes no monstro que eu fui um dia e permaneça pra sempre com ele intrínseco em ti. Isso não é nenhum pouco essencial para tua existência. A minha mágoa não é por ter escolhido tal caminho, mas como o conduz. Quero que entendas que terás responsabilidades amanhã ou depois, e aos olhos dos outros nem tudo é aceitável. Quero que entenda que às vezes a maneira como almejamos algo, é necessário paciência pra ser concretizada com sucesso, caso contrário, colocamos tudo a perder. Quero que saibas que nunca estarás sozinha por um segundo que seja, que eu te solto a mão agora pra voar pra onde quiseres, mas te pego no colo se caíres. Um dia entenderás tudo que disse aqui, vai olhar pro teu passado e perceber que tudo o que eu queria era te estender a mão e não bater na tua cara. Apenas saiba que eu te amo.

sábado, 2 de junho de 2012

Capítulos

Às vezes a vida sorri pra gente quando menos esperamos. E, se você observar bem, nos mínimos detalhes está os culpados por seu sorriso. Pode ser por uma palavra amiga na hora certa, um abraço inesperado, um perfume gostoso, que você não sabe quem está usando, entrando por suas narinas e, inexplicavelmente, te faz sentir prazer. O vento, que você não enxerga, mas quando bate em seu rosto você sabe que ele está lá, frio, gostoso. A música soando aos seus ouvidos, tão delicada quanto veludo. Aí vem a dor. A hora triste da vida. Porque a vida não é triste por completa, mas possui algumas horas. Você caminha por uma rua escura e fria. Não parece terminar. Você não tem com o que se aquecer, apenas o correr do sangue em suas veias que parece lento. Lento, assim como seus passos. Não há beleza nas flores, nem mais você sente se o vento está frio ou úmido. Você grita um som silencioso pedindo para se apossar de uma alma qualquer além da sua, para que a sua não se sinta tão sozinha. Tão vazia. É aquela parte. Aquele capítulo macabro que temos que passar. E você se faz as mesmas perguntas (sempre). “Por quê?”; “Quando vai acabar?”; “Será que irei sobreviver?”. E depois ele se vai, depois do tempo. Sua segunda chance de recomeçar. (...) O fluxo tão forte faz o pulsar ainda mais. Seu corpo aquece gradativamete. Suas mãos suadas, trêmulas. Instintivamente o ar entra em seus pulmões, em sua ofegante respiração. Parecia tensa. Incomodada. Não queira falar, tampouco estar ali. Inventava qualquer desculpa para sair dali, dizendo frases sem sentidos, desengasgando coisas quaisquer para, apenas, escapar daquele sofrimento. Daquela dor. Ou melhor: escapar do motivo que a fazia sofrer. E encerro com um trecho de "Angel", Sarah McLachlan: “Gaste todo o seu tempo esperando por aquela segunda chance, por uma mudança que resolveria tudo. Sempre há um motivo para não se sentir bom o bastante e é difícil no fim do dia. Eu preciso de alguma distração. Oh, perfeita liberação. A lembrança vaza de minhas veias... Deixe-me vazia e sem peso. E talvez eu encontre alguma paz esta noite”.